quarta-feira, 28 de julho de 2010

Don e Juan

Por: Juliano Nicoliello e Thaís Colen
Don e Juan contam sua história
      Nascidos em Varginha, a dupla sertaneja Don e Juan popularizou o sertanejo universitário em todo o Brasil. Ainda crianças, iniciaram a carreira como a dupla Rogério e Roberval que durou 10 anos. Mais tarde, na adolescência formaram a banda de baile GR3 juntamente com seu irmão Rosemar. Chegaram a se separar durante seis anos e sete meses quando Don foi se dedicar à ópera e ao repertório operístico. A dupla estourou de uma forma inusitada e inesperada pelos irmãos, após Don compor a música Porque Será, Juan sugeriu que eles gravassem a música como uma brincadeira, sem compromisso, e após essa “brincadeira” Porque Será foi estouro e sucesso garantido em todo o país.
      Em um dia de gravação do programa Don e Juan e sua história fomos recebidos pelos irmãos. Simples e muito receptivos, com um jeitinho mineiro de quem viveu alguns bons anos no interior, entre boas gargalhadas eles contam casos, relembram a trajetória e as muitas dificuldades enfrentadas até terem o trabalho devidamente reconhecido.

Don, você começou sua carreira bem cedo, aos seis anos se apresentando em exposições agropecuárias e festas em Varginha. Quais as dificuldades que vocês enfrentaram neste início de carreira?

Don
Don. Nós passamos por quase todas as dificuldades possíveis. É uma carreira muito difícil, porque não depende do teu empenho, da tua dedicação, do seu talento pra que você tenha êxito. Música não depende disso, é uma série de fatores. É o momento do mercado, é o que as pessoas querem ouvir, tem haver com o seu repertório, então tem que haver oportunidades. Nós passamos por quase tudo de dificuldade, até o ponto de pensar em desistir, em 2002, quando eu fui embora do Brasil. Eu não queria mais mexer com música sertaneja e foi exatamente quando eu compus a música Porque Será.

Nesse início da carreira vocês se dividiram entre o estudo e a música, em que ponto vocês perceberam que a música era o caminho certo para vocês?

Juan
D. Na verdade a gente nunca percebeu, a gente foi estudar, o que é sempre muito bom, né? Conhecimento é algo que ninguém te tira, mas a gente foi fazer faculdade por pura frustração no segmento musical. Quando a gente tava desistindo, eu já havia me formado, ele estava se formando, Porque Será pegou. A gente nunca planejou isso, a gente sempre quis fazer música, só que tava tão difícil por isso que a gente estudou.

Juan. E entre ganhar dinheiro com publicidade ou administração que a gente é formado, a gente preferiu ganhar com música. Até porque a gente gosta de fazer, então acho que foi o momento que a gente teve mesmo que fazer uma opção, uma escolha.

D. Mas não foi planejado.

Porque o nome Don e Juan? Don nós sabemos que vem da infância, um apelido pelo dom musical. E o Juan? Como foi a idéia?

J. Quando voltamos com a dupla, era Rogério e Roberval. E eu propus os apelidos Don e Juan. Ele já tinha o apelido de Don desde a infância. Quando a gente falava o nome Don e Juan as pessoas falavam “nó eu conheço”.

D. Não o povo achava era brega também. (Risos)

J. Não tínhamos dinheiro para divulgar, então usamos o apelido que é mais fácil assimilar.

D. É brega mais é “bão”!

Don, aos 26 anos você começou a se dedicar ao canto lírio e à ópera com a professora e maestrina Neide Zipriane; depois passou seis meses na Alemanha onde fez parte do coral da Universidade Federal local, o que essa influência acrescentou no seu trabalho na música sertaneja?

D. Esse assunto é um motivo de muito orgulho. Nunca tive a pretensão de ser cantor de ópera, fui encontrado pela Neide Zipriane. Ela me disse que eu era tenor e isso era raro, ter a capacidade de cantar dentro de um teatro pra mil e duzentas pessoas sem microfone. Fiquei quase sete anos me dedicando única e exclusivamente à ópera. Eu tive a oportunidade de ir embora do Brasil.

E o que te trouxe de volta ao Brasil e ao Sertanejo?

D. Eu e o Juan nós somos irmãos, né? E a gente ta nessa luta, desde os meus seis anos de idade, o Juan tinha sete e era ele que me acompanhava no violão nessa época. Isso fez com que eu parasse e voltasse para dedicar à música sertaneja, que é a nossa paixão. Tenho muito orgulho de dizer que fiz ópera, mas foi por isso que eu voltei para cantar sertanejo, principalmente pelo fato de o Juan ser meu irmão e a gente estar separado.

Juan, qual experiência você tirou do trabalho com a banda GR3? Porque esse nome?

J. A banda foi montada por mim, pelo Don que era Roberval, e nosso irmão Rosemar. Eram os três irmãos e o G de grupo, antigamente os pais tinham mania de colocar o nome com a mesma inicial, então era Rogério, Roberval, Rosemar, Rodrigo, etc, aquele trem bagunçado. Então quando montamos a GR3 tentando sobreviver de música. Na nossa adolescência a gente quis se profissionalizar e ganhar dinheiro, o sertanejo não tinha mercado e a gente acabou caindo na vida de bailes. Não por querer, mas sim por necessidade. Isso foi um aprendizado muito importante pra gente porque é uma bagagem que você carrega, vai aprendendo como lidar com o público e eu acho que o palco hoje não é qualquer um que pode subir e administrar.

D. Eu acho que isso é que propiciou a gente a fazer TV. A desenvoltura que a gente acabou desenvolvendo em função dos bailes, aquela capacidade que você tem de tocar de Ray Conniff a axé, isso fez com que a gente ganhasse experiência.

Como surgiu a oportunidade de fazer o programa Don e Juan e sua história?
J. Foi um convite feito pelo Rodrigo Scoralick, que é o diretor de programação da TV Alterosa. Ele tava dirigindo o nosso DVD no Chevrollet.

D. Nós contratamos uma equipe de São Paulo, a mesma que fez o DVD da Ivete, JM. Eles fizeram contato com o Rodrigo aqui, convidando ele para fazer a direção de cortes de câmera e ele se apresentou “olha, eu sou de BH, sou lá da TV Alterosa”. Acabou surgindo uma amizade, e ele falou “olha eu tenho uma idéia de fazer um programa musical, não quero nada de play-back”, o que a gente topou de imediato.

Vocês já passaram por alguma situação inusitada ou engraçada durante os shows ou na gravação do programa?

D. O palco é uma incógnita. A gente sabe que vai entrar, agora, mas como que vai sair...

O Juan já caiu do palco fazendo solo de guitarra, as pessoas jogam objetos que deixam a gente completamente constrangido. Esses dias pra traz jogaram... Pô, a mulher “rancou” a calcinha no meio da platéia e jogou e o marido tava perto. Foi uma confusão danada. (risos)

J. A gente tem uma música que chama Princesa, é um pedido de casamento. O que chove de aliança lá em cima do palco você não acredita.

D. Palco é sempre uma mágica, né? A gente nunca sabe o que vai encontrar. E na saída do palco melhor ainda. Eu até tenho uma cicatriz na boca em função de unha.
Qual é o tipo de abordagem que os fãs com vocês?

J. Ah, é carinhosa, né?

D. A turma hoje ta mais tranqüila.

J. Antigamente eles eram mais agressivos, chegavam e pegavam a gente em tudo quanto é lugar que você imaginar.

D. Quando fala em agressivo, não é em nenhum momento com a intenção de machucar a gente.

J. Euforia. Eu acho que é euforia.

D. Às vezes o tumulto que se cria em função ate dessa exposição na mídia. Essa coisa de “ta” na televisão. Às vezes o fã fica esperando que você vá na cidade dele durante um tempão, quando você chega, é natural que eles queiram “ta” perto. Agora hoje com essa questão toda da internet, os fãs ficaram muito próximos dos artistas.

Vocês têm referencias de músicos mineiros na trajetória de vocês?

D. Olha se eu te falar dentro do sertanejo, a gente não tem. Acho que as grandes referências que a gente tem do sertanejo são de Goiânia ou do interior de São Paulo. Aqui em Minas Gerais, quem já esteve no nosso programa mais de uma vez foi o Trio Parada Dura. Esse sim a gente cresceu ouvindo até em função dos nossos pais.
Dentre os convidados do programa, teve algum que foi mais marcante?

D. A gente cantou com o Mato Grosso. Foi uma pena que o Matias não ser o original, sem fazer aqui nenhuma distinção do que veio, mas quando a gente fala de ídolos, o Mato Grosso e Matias é uma dessas duplas que a gente cresceu ouvindo. A gente queria poder estar vendo os dois juntos ali, né?


J. Gian e Giovani, que além de ser referência pra gente, são amigos pessoais. E o fato deles estarem presentes aqui na gravação foi um momento especial.

Tem alguma contagem oficial de quantos CDs e Dvds já foram vendidos até hoje?

D. Mais de um milhão com certeza. Se a gente for colocar esses dados da gravadora, se for colocar pirataria nisso aí, né? De acordo com a gravadora Universal, 94% do nosso mercado em Minas é de pirata. Se você vendeu aqui 20 mil discos, isso corresponde a 6%, se você colocar mais 94%, ai sabe quantos discos foram feitos em Minas. A grande pirataria acontece dentro da nossa casa, hoje todo mundo baixa música. Então, assim, o Don e Juan já passou de um milhão há muito tempo.

Qual a opinião de vocês sobre o atual cenário musical mineiro, o cenário de músicas em Minas?

D. Em que Minas Gerais, agora, a justiça ta sendo feita. Em 97, quando a gente cantava como Rogério e Roberval, a gente teve a oportunidade de conhecer também Gian e Giovani. Eles afirmavam assim que Minas Gerais é o estado que mais shows dá pra todos os artistas, é o estado mais festeiro do Brasil, haja vista que nós temos aqui 853 municípios festeiros. Se você for colocar isso, dá uns cinco anos sem repetir a cidade. Minas Gerais sempre teve talentos, gente o que não falta é talento em todos os segmentos. Se você vai pegar a MPB, o que tem de gente boa ai, tocando em barzinho, um cara com voz e violão que faz um trabalho belíssimo. O nosso pop rock é o melhor, indiscutivelmente, com os dois representantes de ponta, Skank e Jota Quest.

J. O próprio 14bis, eles fizeram história, né? Eu acho que Minas Gerais ta extremamente bem representada e vou dizer mais, o pessoal pode aguardar que ainda tem muita coisa boa pra aparecer ai.

D. Sabe o que acontece? É a democratização também da mídia. O Brasil era Rio e São Paulo, e se você quisesse fazer sucesso ou você ia pra lá ou você esquece. Hoje não. Pra você ver, o próprio programa nosso, Don e Juan, passa no Distrito Federal com uma audiência altíssima e só não foi pra rede nacional até hoje porque a nossa gravadora entendeu que não era viável, pra que isso não fechasse portas para nós em outras emissoras.

O que vocês acham da proposta de uma revista como a nossa, que vai abordar só a música mineira, dando espaço para os artistas mineiros?

J. Pelo segmento que vocês tão abrangendo, é muito importante, porque vocês estão falando de música, e eu acho que Minas Gerais não tem uma revista direcionada a música. Independente de ser sertanejo ou não. Eu acho que a música é muito rica, né? Vocês têm conteúdo ai para pra falar assim muito tempo.

D. Eu sou mineiro de coração assim, então tudo que eu vejo em Minas Gerais, se eu puder contribuir de alguma forma, eu farei. Acho que o nosso país ainda não descobriu o estado que é Minas Gerais, o que a gente vende de Minas Gerais pra fora ainda é muito pequeno perto do que a gente tem. Eu acho que vocês vão abranger uma coisa que o mineiro ama, que é a música. Somos um povo extremamente musical, desde os congados, as festas de folia de reis, bandas de rock como Sepultura. Nem cheguei a comentar, né? Mas ta aí.

Por: Juliano Nicoliello e Thaís Colen

3 comentários:

  1. Parabéns à revista pela belissíma reportagem, eu amo Minas Gerais apesar de morar em Brasília e sou apaixonada pela dupla.

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